sábado, 8 de junho de 2013

Pai

Chove sem parar
Chuva mansa
Natal triste
Coração vazio
Saudade dele
É Natal
Eu não queria
Falar em tristeza
Lembrar de tristeza
Pensar em tristeza
Fazer o quê?
Natal é tristeza
Saudade dele.

A dor continua
Tudo vem à memória
Tenho vontade de chorar
Uma saudade grande dele
Eu queria ter notícias
Saber se ele está bem
Eu rezo
Ponho flores em seu retrato
Vejo seus perences
Saudade imensa dele.

Saudade de ouvir meu nome
Com o sotaque carregado
De ouvir me chamar de flor
Gardênia
Do pinicar da barba dele
Ao me dar beijos
O bater de leve em minhas costas
As mãos macias
Mãos de intelectual
Saudade do cheiro dele.

O cheiro dele,
Um perfume...
Vovô cheiroso
Saudade da atenção
Que ele me dava
E era tanta...
Saudade das palavras
Que por mim
Nunca mais foram ditas:
Papai
Paizão
Pai
Meu pai

Que falta ele me faz...

(dezembro 1993)

Enigma


Eu não sei qual chave abre
E nem sei se a porta é essa
Não sei se vou ou fico
Se estou errada ou certa

É preciso ver com a alma
Aonde a visão não alcança
Eu ainda não sei a resposta
Tento ter esperança

Preciso decifrar o enigma
Escutar o que diz o coração
Eu não captei o sentido
Deve ter explicação

Não sei se a bebida que mata
É a mesma que cura
Tento ler nas entrelinhas
Letras que me fogem à leitura

E vou seguindo
Lutando, vivendo enfim
Mas, à noite sozinha
A consciência me pesa:

-O que estou fazendo aqui?!

Contra Tempo (01-06-1990)

O tempo passa
A gente cresce
E se sente
Cada dia
Menor
Cada dia
Mais desprotegida
Queria sumir
Me encolher
Me recolher
De novo ao ventre
Pensar duas vezes
Antes de renascer.

Meu Poema Filho

Você merecia um poema
Pedacinho de mim
Cheiro de jasmim
Início de primavera
Para mim você é assim
Chegou na hora certa
Para me fazer feliz
Eu te amo tanto
Que bons sentimentos
Como paz e alegria
Transbordam em mim

(junho de 1997)

Um Ano

Um ano de sonho.
Um ano de esperança.
Um ano...
Nesse ano tanta coisa aconteceu...
Tanta coisa podia ter acontecido...
Afinal, em menos de um ano,
Se gera um filho.
Depois de um ano:
A desesperança.
Hora de varrer o passado,
De dar a volta por cima.
Fechar tudo.
Trancar a porta,
Mas não à chave.
Não esquecer
De deixar a luz acesa
Para você achar meu rumo
Se algum dia
Quiser voltar
Quiser ficar e
Ainda me quiser.

(1994)

Reflexões

Eu tenho comigo uma teoria sem pé nem cabeça, essas coisas que só se sentem com o coração.
"Coisas de Charmene..." dirão.
Para mim o certo seria morrer no dia do aniversário, para fechar o ciclo, de morte natural.
Se for um mês antes ou depois, ainda está no prazo.
Não houve falha do destino.
Papai morreu em 27 de dezembro, aniversario em 22 de janeiro.
Estava certo...
Mamãe não...
Morreu dia 26 de junho, longe demais de 06 de novembro...
Perto demais do nascimento de Davi, 28 de junho.
Houve um erro do destino.
Ou foi o jeito que Mamãe encontrou de me deixar para sempre "coitadinha".