domingo, 4 de janeiro de 2009

Desigualdade

Hoje eu fazia compras, escolhendo entre os legumes, os maiores, mais frescos.
De repente meus olhos se fixaram num homem na rua.
Ele fazia o mesmo que eu, só que ele escolhia seus legumes no lixo.
A cena me chocou.
Que mundo é esse?
Que tenho eu de melhor ou diferente que esse homem?
Ele nasceu como eu, teve uma mãe, foi criança,
Brincou feliz e despreocupado como toda criança deve ser...
Em que momento o destino traçou nossos caminhos?
Será que tivemos as mesmas oportunidades?
Será que soubemos aproveitar as que tivemos?
Quem sabe as mesmas portas que se abriram pra mim, foram fechadas para ele?
Eu não me sinto melhor que ele... nem diferente.
Quando eu me tornei a mulher que tem dinheiro na bolsa para pagar pelo que come?
Quando o homem se tornou o mendigo que cata no lixo para matar a sua fome?
Eu não tenho as respostas.
Entreguei minhas compras ao homem.
Mas não me senti melhor por isso...
Saí triste, sabendo que alimentar UM nao acaba a fome no mundo.

Sol


Eu nunca fui muito do sol...
Nunca tive pretensão de ser morena.
Nunca fui amante do dia.
Sempre gostei da noite, lua e estrelas.
Combina mais com poesia e boemia.
Mas odeio proibições.
Nasci pra transgredir.
Se me dizem pra não pegar sol...
Ai, ai, ai...
Nunca tive tanta vontade de andar nua ao sol.
Ir à praia e me bronzear, mudar de cor.
Só pra ser do contra,
Pegar sol sem proteção,
Sem loção, sem fatores ou protetores.
Deixar o sol entrar em mim.
Adormecer sob seu calor,
Ficar exposta como os lagartos.
O problema foi proibir...
Eu nasci pra ser do contra.
Eu adoro transgredir.

Charmene


Charmene
Dos medos
Das insônias
Dos sonhos
Do contar esses sonhos
Dos doces
Dos versos
Dos cantos
Das flores
Dos planos
Das danças
Andanças
Mudanças
Esperança.
Das angustias
Das ansiedades
Das indecisões
Das “artes” e “desastres”
Dos olhos que falam
Do não saber mentir
Dos amores
Maria das dores
Das cicatrizes e cortes
Das mortes (as dores mais fortes)
Dos retratos
Dos bordados
Trabalhos não terminados
Dos escritos
Dos filhos (os amores mais queridos)
Dos amigos
Do Portugal mal resolvido
De Pessoa e de Chico
De Wagner
Da boa vontade (confessa qualidade)
Da saudade
Da vontade
De ser
A grande
A única
Para sempre
A eterna
Charmaine

(coisas de Charmene)

A Sua Partida


Mãezinha, ao fechar os olhos para essa vida, você despertou para a outra: mais nova, mais magra, mas não perdeu seus lindos cabelos cor de prata.
O ar tinha um cheiro bom de jasmim, pois quando se morre deve ser assim...
Caía um orvalho de strass em homenagem ao seu lado índio que adorava um brilho...
Nada de harpas ou flautas, se havia música, som certeza era Moon River tocada em caixinha de música, duas paixões suas.
E com os pés descalços você caminhou por um tapete de flores, iluminado por uma suave luz azul, que era sua cor preferida. No fim do caminho, Papai lhe esperava, também mais novo e mais magro, trazendo no colo a Olga Maria, o seu eterno bebê, que esperou tanto tempo por você. E não haverá mais lágrimas quando você falar nela...
Papai lhe levou para a casa dos seus sonhos, não sei se a da Quinta ou a da Rua de Santa Cruz. E ele pôde finalmente se dedicar às plantas, selos, música, leitura e pôr toda a correspondência em dia... Você se ocupou da sua filhinha, dos seus bordados, dos seus cochilos embalados pela cadeira de balanço, sem falar que a casa vive cheia de anjinhos gulosos por causa dos seus doces e bolos confeitados.
E toda noite vocês dançam valsas, tangos, boleros, observados por olhares maravilhados.
A casa tem sempre a visita de parentes e amigos que já se foram. São encontros
felizes, pois as mágoas foram superadas, as feridas cicatrizadas e todas as arestas aparadas.
A casa tem uma capela onde você faz suas orações por todos nós como sempre fazia ou por um de nós em especial, quando seu coração lhe avisa que alguém não está bem.
Quando a saudade realmente aperta, na casa tem uma janela de onde você pode nos ver, mas só em nossos momentos de alegria, para não aperrear esse seu coraçãozinho sempre tão preocupado conosco.
Mãezinha, a casa tem um jardim enorme que floresce toda vez que lembramos, falamos ou rezamos por vocês.
E ele vive florido!!!

(eu não sei se é sonho ou desejo, mas meu amor é tanto que eu realmente queria que fosse assim...)

26/11/2005 (5 meses de saudade)

Amor Demais


Eu já amei demais...
Amei Márcios, Ricardos, Gustavos,
Fernandos, Franciscos e Fábios.
Amores sofridos,
Chorados,
Amores engraçados,
Outros encantados,
Amores platônicos,
Alguns impossíveis
Outros proibidos...
Aprendi muito com eles.
O que sou foi graças
Ao que vivi,
Ao que sofri,
Ao que sonhei.
Nada foi em vão
Nenhum sorriso
E nenhuma lágrima.
Só depois de muito amar
Pude parar e perceber
Que amar não é sorrir e nem sofrer.
Só depois de muito amar
Escolhi ser amada.
Conforto que só quem já morreu de amor
Pode merecer.
E decidi ser a amada de alguém.
Seu coração chama por meu nome
E provou que seria pra sempre...
Teceu uma teia invisível
Chamada família.
Esse amor eterno
Rendeu frutos preciosos
Chamados filhos.
Esse amor tranqüilo
Deu um rumo certo
Ao meu coração indeciso.
Esse amor firme
Serviu de âncora
À minha alma
Tão dispersa,
Tão apaixonada,
Tão vagante,
Tão inconstante...
E no final da vida
Espero poder dizer
Que fui feliz!!!

21/09/2008