terça-feira, 19 de janeiro de 2010

IMAGEM


Eu te imagino
Com mil faces.
Bela,feia,
Alegre,triste.

Eu te imagino
Linda.
Horrivelmente
Bela.

Terrivelmente
Forte.
Dona e Senhora
De tudo.

Poderosamente
Cecília.

(Década de 80)

Como a Natureza


(1979 com 11 anos)

Eu queria ser como as águas do rio
Que correm para o mar
Andar sem ter hora
De partir ou de chegar.

Eu queria ser como o vento
Levantando folhas por aí
Ou ser como a chuva
Que molha o capim.

Eu queria ser algo
De infinita beleza
Bonita e simples
Como a natureza.

RUBI


São vermelhos os lábios
Que anseiam por lábios,
Desejam teus beijos.

São teus
Os cinco sentidos
De um ser que te ama.

São teus
Os pecados mortais
Deste ser.

É teu
Meu amor por ti.
É pecado te amar assim.

Te trago no peito
Como coisa rara
Pedra preciosa: rubi.


(Década de 80)

São Luís


Cidade antiga
Pedras e mais pedras
Amontoadas pelas ruas
Assim como meus sentimentos
Largados, destroçados.
Eu perdida na cidade
Dos azulejos e casarões.
Ando em busca de mais luz,
Necessito de paz,
Já que exigir amor
Seria covardia.
Na noite da cidade a lua clareia
O moderno e o antigo indistintamente.
Cria sombras
E eu sou apenas mais uma.
Emoções me invadem
E apesar de serem muitas
Não defino nenhuma.
Estou só.
Continuo só.
Tropeçando...
Eu tenho medo do escuro!!!
Por quanto tempo andarei por essas ruas antigas?
Quantas pedras encontrarei no caminho?
Quantas vezes ainda cairei,
Mesmo quando não houver mais pedras?
Azulejos e casarões
Pedras e sombras
Numa construção
Tão concreta e abstrata
Tão real e absurda.
Sombras, que eu temo que me absorvam.
Pedra, que eu tenho medo de me tornar.
Eu tenho medo do futuro!!!
Depois, tudo é nada.
Depois, nada vem.
O tempo não pára, não volta,
Os sonhos não vêm.
Entao, para quê lutar, resistir?
Para quê continuar erguendo pedras
Se o mundo já anda tão cheio de sombras?

(Década de 80)

Logo Ela?


Cadê a menina
Que ainda ontem corria,
Pulava os degraus da escadaria,
Brincava com todos, sorria?
Se transformou, quem diria...

Cadê a menina
Das mãos geladas,
Que dizia amar e corava?
Apaixonanate criança apaixonada...

Olhava para o céu muito sábia,
Dizia que estrela "andava",
Fazia pedidos, sonhava.
Inocente menina, acreditava...

Cadê a menina-alegria
Que pulava, sonhava, sorria,
Gelava e corava muito sábia?
Era criança e amava...

A menina cresceu como a gente,
Se transformou totalmente,
E eu posso até afirmar,
Que já nem existe menina

(Década de 80)

De mansinho...


Precisava te dizer adeus antes de ir.
Ainda te amo tanto...
A esperança vai indo lentamente,
Aos poucos deixa de correr nas veias.
Tudo vai nublando diante dos meus olhos
E eu nada posso fazer.
Conformada e triste estou.
Não é porque não deu certo
Que desacreditei no amor.
Talvez a vida não tenha aberto todas as portas.
Talvez o destino não tenha dado todas as oportunidades.
Não haverá casa na montanha com vista para o mar.
Até isso eu lamento.
Preciso ir...
Procuro um caminhho com borboletas e flores.
Um lugar mais belo, mais puro.
Preciso ir para não sofrer mais...
Fecha os olhos,
Que pé ante pé,
Saio de mansinho da sua vida.

(Década de 80)

Retrospectiva de um amor antigo


... a praia, as pedras, o rio, as águas correndo, o tempo passando e nada mais é nítido. Como se tudo fizesse parte de um passado distante, quase esquecido...

Você é meu sorriso, meu parar no tempo,
Meu voar no espaço, esquecer a vida, sonhar.
Eu, um anjo louco,
Atualmente de cabelos revoltos de tanto voar.
Somos naturais.
Você, terra e semente, dom de nascer.
Eu, vento e chuva, tempestade no ar.
Sou para você como o anel
Preso à corrente, agarrada à você,
Tentando me fazer presente.
Você, um poema de Pessoa,
Sentimentos escritos minúsculamente,
História de uma São Paulo que não conheço.
Eu, milhões de cartas para não ser esquecida.
Poemas simples, sorrisos e olhares.
Você um par de olhos lindos,
Um abraço mais que apertado,
Algo nos meus pés colorindo os meus passos,
Leveza da fumaça do cigarro.
Eu, choros nunca contidos,
Um anjo que não tem asas
E te promete voar...
Você, completamente inseguro
E eu buscando segurança em você.
E de repente,
Juntos nada somos
Apesar de muito sermos um para o outro.
Eu:
Seu anjinho louco, perdido...
Você:
Meu menino bom que cresceu...

(década de 80)

Loucura e Lucidez


Sempre tive medo de enlouquecer.
Perder a lucidez.
Não ser dona dos meus atos.
Raramente bebo e muito pouco.
Aquela sensação de leveza
Que o álcool traz,
E que muita gente gosta,
Me incomoda!
Drogas não me atraem...
Perder a noção das coisas,
O contato com a realidade,
Não se parece comigo!
Gosto de sentir meus pés no chão,
Saber o terreno que piso,
Saber o que faço,
Ter certeza do que digo.
E eu nem me considero
Uma pessoa assim tão normal...
Já tenho tantos hábitos
Caracterizados como
“Coisas de Charmene”...
Meu medo de enlouquecer,
É me enveredar de vez
Por esse meu lado excêntrico
E não achar
O caminho de volta.
Ou pior,
Não querer voltar !!!

19/01/2010

Para a minha filha


(aquarela de Petra Elster sobre papel reciclável)

Beatriz, Isadora, Sofia
Juliana, Lisbeth, Cecília
Mariana, Catarina, Elizabeth,
Foram nomes de bonecas.
Pratiquei em vão
Para a filha que nunca tive.

Maria Chiquinha, tranças,
Cachinhos e franjinha,
Vestidos bordados,
Pulseira de bolinha,
Um universo em cor de rosa
Para a filha que nunca tive.

Livros de contos de fadas,
Bonecas e panelinhas,
Príncipes e princesas,
Bicicleta com cestinha,
Bambolê e canções de roda
Para a filha que nunca tive.

Usaria minha maquiagem,
Os meus sapatos de salto,
Vestidinha de anjo
Coroaria Nossa Senhora,
Teria festa de 15 anos,
A filha que nunca tive.

Seria minha amiga?
Cuidaria de mim?
Seria carinhosa?
Seria feliz?
Seria bem resolvida
A filha que eu nunca quis?

19/01/2010

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Sua Solidão


Tenho pena da sua solidão.
Morar só.
Silêncio de diálogos.
Dormir só.
Sem pés para roçar os pés.
Acordar só.
Sem sorrisos de Bom Dia!
Respeito.
Eu sei que é opção.
Talvez nem seja...
Tenho pena de toda solidão.
Fazer comida para um só.
Refeição é bom com alguém...
Ter com quem dividir.
Você tem suas plantas e bichos.
Quem os ama sabe:
Nada mais fiel ou
Mais verdadeiro.
Você não vive exatamente só.
Mas, tenho pena da sua solidão,
Que é planejada, organizada,
Desejada, programada.
Você se preparou para ela.
Tenho pena de toda solidão!
Se eu pudesse
Acabava com a sua,
Que eu sei que incomoda
Bem mais a mim
Que a você.
Você lê quando quer,
Ouve a música que quer,
Assiste ao seu programa na TV,
Dorme à hora que quiser...
Você manda em você!
Sentiu na pele:
“Antes só do que mal acompanhado”.
E escolheu ser só.
E eu vivo sempre
Tão cercada, cerceada,
Que chego a ter mais inveja
do que pena
Da sua solidão!

18/01/2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Resiliência


“Quando eu nasci veio um anjo safado/ O chato do querubim/ E decretou que eu estava predestinado/ A ser errado assim/ Já de saída a minha estrada entortou/ Mas vou até o fim”
(Chico Buarque – Até o fim)

RESILIÊNCIA

Tento entender
Por que sou assim
Sedenta de vida.
Sou a caçula,
Fui mimada...
Até os quinze anos
Fui depressiva,
Achava que ia morrer,
Tinha data marcada.
Não morri
E mudei.
Até hoje,
Tempo recuperar
O tempo perdido
Sendo só alegria.
Estou envelhecendo,
Mas sempre serei a menina
Aos olhos dos meus irmãos.
Me sinto menina
Mãe de meninos.
Os anos não me abalam.
Minha alma é leve.
Tenho o espírito jovem
Que só anos bem vividos
Podem trazer.
A vida foi cruel...
É longa a lista de mazelas:
Meningite,
Endometriose,
Ovários policísticos,
Miomas,
Hipermetropia,
Carcinoma basocelular,
Sempre cercada de muita dor.
Sobrevivi.
Batalhei guerras
Perdi ovário, trompa
Sofri fraturas.
A vida foi boa...
Tive três filhos
Que diziam não poder.
Óculos e lentes
Dão nitidez ao meu horizonte.
Protetores e cirurgias
Protegem minha pele.
A vida foi boa e cruel...
Eu escolhi dar certo,
Ser feliz,
Vencer.
Hoje chamam isso de
Resiliência.
Capacidade de se recuperar,
Se reerguer depois do tombo,
Sair fortalecido de uma adversidade.
A palavra está na moda, mas
Discordo.
Eu ainda acho que é pura teimosia.
14/01/2010