quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Resiliência


“Quando eu nasci veio um anjo safado/ O chato do querubim/ E decretou que eu estava predestinado/ A ser errado assim/ Já de saída a minha estrada entortou/ Mas vou até o fim”
(Chico Buarque – Até o fim)

RESILIÊNCIA

Tento entender
Por que sou assim
Sedenta de vida.
Sou a caçula,
Fui mimada...
Até os quinze anos
Fui depressiva,
Achava que ia morrer,
Tinha data marcada.
Não morri
E mudei.
Até hoje,
Tempo recuperar
O tempo perdido
Sendo só alegria.
Estou envelhecendo,
Mas sempre serei a menina
Aos olhos dos meus irmãos.
Me sinto menina
Mãe de meninos.
Os anos não me abalam.
Minha alma é leve.
Tenho o espírito jovem
Que só anos bem vividos
Podem trazer.
A vida foi cruel...
É longa a lista de mazelas:
Meningite,
Endometriose,
Ovários policísticos,
Miomas,
Hipermetropia,
Carcinoma basocelular,
Sempre cercada de muita dor.
Sobrevivi.
Batalhei guerras
Perdi ovário, trompa
Sofri fraturas.
A vida foi boa...
Tive três filhos
Que diziam não poder.
Óculos e lentes
Dão nitidez ao meu horizonte.
Protetores e cirurgias
Protegem minha pele.
A vida foi boa e cruel...
Eu escolhi dar certo,
Ser feliz,
Vencer.
Hoje chamam isso de
Resiliência.
Capacidade de se recuperar,
Se reerguer depois do tombo,
Sair fortalecido de uma adversidade.
A palavra está na moda, mas
Discordo.
Eu ainda acho que é pura teimosia.
14/01/2010