domingo, 25 de janeiro de 2009

Ampulheta


Agora é tarde para recomeçar.
O tempo passou tão depressa
Que meus sonhos ficaram para trás.
Em que caminho me perdi?
De repente,
É tarde para tentar de novo,
Difícil mudar o rumo,
Falta coragem para arriscar.
O pique já não é o mesmo,
O corpo já não corresponde,
A pele perde o viço
E eu me vejo falando em “antigamente”.
Já me chamam de “senhora”?!
Eu me olho no espelho
E vejo em meus olhos
O brilho da menina
Que habita minha alma.
Que tempo cruel é esse
Que não vi passar?
Por que não me avisaram antes
Que seria assim?
Eu não teria errado caminhos,
Teria evitado tropeços,
Cercaria-me de pessoas boas,
Teria feito as escolhas certas.
Dói-me ter tantos sonhos e planos
E saber que está tão perto o fim.
Abro mãos de sonhos
Que nem se realizaram...
Ninguém me disse que seria assim.

Charmene
25.01.2009

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Morrer


Não se fala da morte por medo
Por mau presságio, para não “atrair”
Por superstição.
O que é uma grande bobagem...
Deveria se falar de morte
Para se acostumar com a idéia,
Por ser a única certeza que temos
Nessa vida incerta,
Por não ter como fugir.
Quem pensa na morte
Dá mais valor à vida,
Presta atenção aos detalhes,
Lê nas entrelinhas,
Ama com intensidade.
(principalmente quando ela espreita...)
Eu penso que a morte é como um sono contínuo.
E nem deve ser ruim...
Deve ser como um sono gostoso
Com sonhos bons, sonhos sem fim
Daqueles que nem dá vontade de acordar...
Para sempre,
Para nunca mais,
Até o fim.

21/jan/09

domingo, 11 de janeiro de 2009

Eles


Ele dizia:

Bom dia flor do dia há quanto tempo eu não te via!
Toma, é bom...
Coça cá as minhas costas.
Alma até Almeida!
O que arde cura, o que aperta segura.
Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte.
Serviço de menino é pouco e quem não aproveita é louco.
Dou-te um piparote que te ponho a voar!
Todo enchicharrado...
Viver não custa, o que custa é saber viver!
Lusca-fusca.
Charmenia Gardenia!

Ela dizia:

Quem é amiga?
Quem não se enfeita por si se enjeita.
Quem não se sente não é de boa gente.
Que boca branca é essa? vai passar um batom nessa boca!
Quem não come por já ter comido, não tem doença de perigo.
Peitiçoca, maracujá de gaveta, carrapato com tosse, encangando grilo, saída da casca, perna de alicate...
Fátima... Olga... Lúcia... Charmene! (desfiava o rosário inteiro para me chamar...)

Eles já se foram,mas ainda ouço as vozes da minha infância.
Me vejo de novo menina, sendo feliz perto deles, completamente alheia ao meu destino e à mulher que eu viria a ser.
Me lembro doente, cercada de travesseiros e mimos.
A casa exalando à canja, chá de erva doce e ao bendito xarope de cenoura.
O tempo passou tão depressa que não deu tempo de viver tudo o que eu queria.
Faltou ter entrado na igreja com ele quando me casei.
Faltou Davi ser ninado por ela na cadeira de balanço.
Me sinto roubada até por ser a caçula e ter tido menos tempo como filha...
Sinto falta de ser amada incondicionalmente.
Eles se foram, mas a cada dia, os sinto mais vivos em mim.
Porque a vida continua,
A história se repete...

Samuel cara de papel...
Gabriel cara de pastel...
Davi cara de caqui...

‘Tá na hora de dormir!!!

Março de 2006

Tatuagem


Vem, amor.
O sol já se vai
E um cavalo alado me espera.
Eu preciso ir...
E vou longe...
Cavalgar tuas costas,
Teu peito, teus braços.
Viajar pelo teu corpo
Sem pressa...
Me alimentar de beijos e abraços.
Anda,
Que o tempo não espera,
O sentimento só aumenta
E eu quero mais!
E quando o dia acabar,
Depois da loucura e desejo,
Quero adormecer nos teus braços,
Curar meu cansaço
E descobrir que sou feliz!

(para Wagner)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Encontro


O olhar será nossa linguagem
O toque nossa profissão
Carinho uma necessidade
O desejo nossa religião
O beijo será nosso alimento
Saudade o eterno laço
O amor vai parar o tempo
E tornar infinito nosso abraço

O Fim


Em que dia aquele brilho
Se apagou em nossos olhos?
Quando deixamos
De fazer planos e sonhar?
Em que segundo
O sorriso se entregou ao pranto?
E quando deixamos
De nos ver como um par?

Nem sabemos
Qual era a nossa música...
Que dia deixamos de viver
Nossa história de amor?
Foi quando perdemos o medo
De nos perder,
Que a alegria deu lugar à dor?

Em que minuto
Esgotaram-se os carinhos?
A todo instante
Vejo a nossa paz por um triz...
Mesmo juntos
Nos sentimos sozinhos...
Em que momento
Deixei de ser feliz?

Definitivo


Ainda não havia amanhecido
Quando ela acordou de repente.
Não conseguiu mais dormir,
O rio não lhe saía da cabeça...
Pensou na sua vida,
Na rotina de todo dia,
Nos sonhos que abriu mão,
Nos planos que não deram certo,
No amor impossível...
Pensou no rio.
Lembrou dos pais, dos irmãos,
Dos amigos...
A idéia fixa, o rio.
O rio sempre o rio.
Que segue seu curso indifierente a tudo.
E ela resolveu sair.
Olhou com ar de despedida,
A vida que deixava.
O marido, olhou com carinho,
Os filhos, com ternura
E por pouco não desistiu...
Saiu como estava
De camisola e descalça.
Andou pelas ruas escuras, desertas
Fez o percurso de todos os dias
Sem pressa...
Na mente o rio que não pára...
Reencontrá-lo deu a paz que esperava.
E mergulhou no rio sem medo
Atrás da liberdade sonhada.
Águas queridas
Mergulho no adeus
Definitivo...

A Vida É Assim


Resta um esperança?
Uma luz no fim de tudo?
Ideal de ser feliz...
Conhecer-te pouco a pouco
Altera meu sono
Mas renova as energias.
Levo-te comigo
Como coisa rara.
Ser feliz, querer ser feliz...
Ontem, hoje, sempre.
Devo ou não devo?
Uma eterna pergunta
A me perseguir.
Resolvo o impasse
Transformando sentimentos
Em cartas e poemas.
Busco explicar o que não se explica.
Que carinhos são só carinhos...
Concordo que parece loucura
Felizmente ou infelizmente sou assim.
Talvez não te reencontre.
Talvez seja mesmo impossível...
Fazer o quê?
A vida é assim...

2000

Regresso


Eu preciso escrever
Pra voltar a ver,
Voltar a ter,
Voltar a ser.
Meu coração anda às cegas.
Me falta ternura.
Já nem sei quem eu era...
Eu preciso escrever
Pra voltar a mim,
À minha essência.
Palavra, sentimento, letra,
Papel, emoção, caneta
Quero de volta a ternura
No olhar, no tocar
No sentir, no existir.
Quero ser como eu era:
Autêntica.
Embora pareça loucura,
A tristeza necessária pra poesia existir
Me cura da necessidade que tenho
De ser diferente, singular...
Eu preciso escrever
Pra me resgatar desse abismo
De ser apenas mais um.
Eu preciso voltar a escrever
Pra recuperar o dom, a magia
De transformar o cotidiano
Em poesia.

2002

Acróstico


Sorriso contagiante
Amigo verdadeiro
Meu amorzinho
Um sonho de menino
Especial e generoso
Luz no meu caminho

2000

Sono


Eu tenho um sono enorme...
Quando meu filho adormece
É como se o mundo se apagasse.
Me vem um sono imenso
Como se viver
Fosse entediante.

01/03/2001

Liberdade


Seguir o coração
Fazer o que se quer
Quebrar grades e algemas
Que impeçam viver
Criar coragem
Romper com o passado
Não olhar pra trás
Correr mundo
Correr perigo
Tendo consciência disso
Permitir pequenas loucuras
Respeitar se respeitando
Amar não se anulando
Ter a doce sensação
De ser apenas você
E desde então
Vejo o céu mais azul
O mundo mais colorido
Sopra em mim um vendaval
Chamado liberdade
E ouço sinos de vento
Vibrando esperança
Dentro de mim

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Esperar sem jamais desistir


Um dia, andaremos de mãos dadas pela praia
E o pôr do sol será mais que um retrato.
Um dia, adormeceremos lado a lado,
E eu saberei a alegria de acordar em seus braços.
Juntos ouviremos nossa Ária de Bach,
Teremos filhos e bichos
E plantaremos flores num mesmo jardim.
Quero contigo o sabor das coisas simples...
Minhas mãos continuarão carregadas de carinho
E meus beijos eternamente à espera de sua boca,
E um dia, entre carinhos, beijos e abraços,
Consumaremos a felicidade do ato.
É certo, teremos futuro, presente e passado.
Meu amor irá além de cartas sem resposta
E teu amor será o que foi feito para mim.
Só hoje descobri
Que sonhos se realizam, sim.
Viver esse amor é meu sonho!

A Casa Materna


De longe se vê bougain villes em flor.
Há ferrugem nas grades do portão.
Latidos anunciam toda chegada.
Na entrada, a imagem paterna com flores.
Anjos bordados, miniaturas, livros,
Histórias em cada bibelô.
Na estante, o Tesouro da Juventude,
Rostos amados nos porta-retratos,
Os Santos todos e uma vela acesa
Sempre que é preciso.
Em cada quarto, uma saudade...
A casa se divide em dois mundos.
Um, onde se passa a vida presente.
Outro, onde vive a memória de tudo.
A mesa farta, sempre posta
E o cheiro bom dos sabores da casa:
Bolo de rolo, pudim da Vitória, pastel de nata.
O pequeno quintal mais verde que todos!
Pitanga, pinha, manacá.
Flores para os beija-flores,
Comida e carinho para gatos e pardais.
O tempo passa,
Mas não tira a beleza materna,
Não desfaz a união dos filhos,
Nem diminui a saudade do pai.
Agora, juntos à mesa
Vibram também vozes infantis
E ainda somos uma família feliz.

2002
(adaptação d' A Casa Materna de Vinicius para a minha Casa Materna...)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Desigualdade

Hoje eu fazia compras, escolhendo entre os legumes, os maiores, mais frescos.
De repente meus olhos se fixaram num homem na rua.
Ele fazia o mesmo que eu, só que ele escolhia seus legumes no lixo.
A cena me chocou.
Que mundo é esse?
Que tenho eu de melhor ou diferente que esse homem?
Ele nasceu como eu, teve uma mãe, foi criança,
Brincou feliz e despreocupado como toda criança deve ser...
Em que momento o destino traçou nossos caminhos?
Será que tivemos as mesmas oportunidades?
Será que soubemos aproveitar as que tivemos?
Quem sabe as mesmas portas que se abriram pra mim, foram fechadas para ele?
Eu não me sinto melhor que ele... nem diferente.
Quando eu me tornei a mulher que tem dinheiro na bolsa para pagar pelo que come?
Quando o homem se tornou o mendigo que cata no lixo para matar a sua fome?
Eu não tenho as respostas.
Entreguei minhas compras ao homem.
Mas não me senti melhor por isso...
Saí triste, sabendo que alimentar UM nao acaba a fome no mundo.

Sol


Eu nunca fui muito do sol...
Nunca tive pretensão de ser morena.
Nunca fui amante do dia.
Sempre gostei da noite, lua e estrelas.
Combina mais com poesia e boemia.
Mas odeio proibições.
Nasci pra transgredir.
Se me dizem pra não pegar sol...
Ai, ai, ai...
Nunca tive tanta vontade de andar nua ao sol.
Ir à praia e me bronzear, mudar de cor.
Só pra ser do contra,
Pegar sol sem proteção,
Sem loção, sem fatores ou protetores.
Deixar o sol entrar em mim.
Adormecer sob seu calor,
Ficar exposta como os lagartos.
O problema foi proibir...
Eu nasci pra ser do contra.
Eu adoro transgredir.

Charmene


Charmene
Dos medos
Das insônias
Dos sonhos
Do contar esses sonhos
Dos doces
Dos versos
Dos cantos
Das flores
Dos planos
Das danças
Andanças
Mudanças
Esperança.
Das angustias
Das ansiedades
Das indecisões
Das “artes” e “desastres”
Dos olhos que falam
Do não saber mentir
Dos amores
Maria das dores
Das cicatrizes e cortes
Das mortes (as dores mais fortes)
Dos retratos
Dos bordados
Trabalhos não terminados
Dos escritos
Dos filhos (os amores mais queridos)
Dos amigos
Do Portugal mal resolvido
De Pessoa e de Chico
De Wagner
Da boa vontade (confessa qualidade)
Da saudade
Da vontade
De ser
A grande
A única
Para sempre
A eterna
Charmaine

(coisas de Charmene)

A Sua Partida


Mãezinha, ao fechar os olhos para essa vida, você despertou para a outra: mais nova, mais magra, mas não perdeu seus lindos cabelos cor de prata.
O ar tinha um cheiro bom de jasmim, pois quando se morre deve ser assim...
Caía um orvalho de strass em homenagem ao seu lado índio que adorava um brilho...
Nada de harpas ou flautas, se havia música, som certeza era Moon River tocada em caixinha de música, duas paixões suas.
E com os pés descalços você caminhou por um tapete de flores, iluminado por uma suave luz azul, que era sua cor preferida. No fim do caminho, Papai lhe esperava, também mais novo e mais magro, trazendo no colo a Olga Maria, o seu eterno bebê, que esperou tanto tempo por você. E não haverá mais lágrimas quando você falar nela...
Papai lhe levou para a casa dos seus sonhos, não sei se a da Quinta ou a da Rua de Santa Cruz. E ele pôde finalmente se dedicar às plantas, selos, música, leitura e pôr toda a correspondência em dia... Você se ocupou da sua filhinha, dos seus bordados, dos seus cochilos embalados pela cadeira de balanço, sem falar que a casa vive cheia de anjinhos gulosos por causa dos seus doces e bolos confeitados.
E toda noite vocês dançam valsas, tangos, boleros, observados por olhares maravilhados.
A casa tem sempre a visita de parentes e amigos que já se foram. São encontros
felizes, pois as mágoas foram superadas, as feridas cicatrizadas e todas as arestas aparadas.
A casa tem uma capela onde você faz suas orações por todos nós como sempre fazia ou por um de nós em especial, quando seu coração lhe avisa que alguém não está bem.
Quando a saudade realmente aperta, na casa tem uma janela de onde você pode nos ver, mas só em nossos momentos de alegria, para não aperrear esse seu coraçãozinho sempre tão preocupado conosco.
Mãezinha, a casa tem um jardim enorme que floresce toda vez que lembramos, falamos ou rezamos por vocês.
E ele vive florido!!!

(eu não sei se é sonho ou desejo, mas meu amor é tanto que eu realmente queria que fosse assim...)

26/11/2005 (5 meses de saudade)

Amor Demais


Eu já amei demais...
Amei Márcios, Ricardos, Gustavos,
Fernandos, Franciscos e Fábios.
Amores sofridos,
Chorados,
Amores engraçados,
Outros encantados,
Amores platônicos,
Alguns impossíveis
Outros proibidos...
Aprendi muito com eles.
O que sou foi graças
Ao que vivi,
Ao que sofri,
Ao que sonhei.
Nada foi em vão
Nenhum sorriso
E nenhuma lágrima.
Só depois de muito amar
Pude parar e perceber
Que amar não é sorrir e nem sofrer.
Só depois de muito amar
Escolhi ser amada.
Conforto que só quem já morreu de amor
Pode merecer.
E decidi ser a amada de alguém.
Seu coração chama por meu nome
E provou que seria pra sempre...
Teceu uma teia invisível
Chamada família.
Esse amor eterno
Rendeu frutos preciosos
Chamados filhos.
Esse amor tranqüilo
Deu um rumo certo
Ao meu coração indeciso.
Esse amor firme
Serviu de âncora
À minha alma
Tão dispersa,
Tão apaixonada,
Tão vagante,
Tão inconstante...
E no final da vida
Espero poder dizer
Que fui feliz!!!

21/09/2008