quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Drumond

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana, que gerou
em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projecções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.

Sofremos não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.

O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Contradança

Jackeline que amava o dia e ela
Lucia que amava o voluntariado e ela
Liliane que amava borboletas e ela
Sérgio que amava a história e ela
Sandra que amava orquídeas e ela
Fátima que amava os livros e ela
Nilva que amava a fé e ela
Olga que amava os bordados e ela
Zélia que amava a força e ela
Wagner que amava o trabalho e ela
Taina que amava os bichos e ela
Samuel que amava Leandra e ela
Ivani que amava organização e ela
Gabriel que amava a independencia e ela
Osires que amava a família e ela
Davi que amava os jogos e ela
Arildo que amava a saudade e ela
Ela, narcisista,
Só amava ela mesma.




quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Lembrar

Mas é melhor apenas guardar a lembrança 
É melhor apenas guardar a lembrança 
Melhor apenas guardar a lembrança 
Apenas guardar a lembrança 
Guardar a lembrança 
A lembrança 
Lembrança 


Mas 
É 
Apenas
A
Lembrança?!
Melhor
Guardar...


Mas 
Lembrança 
Apenas 
É
Guardar
Melhor.





quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Sonho Meu

Diz um provérbio espanhol que
 "a porta do coração só pode ser aberta por dentro".
Uma vez aberta, é inútil tentar voltar atrás, acontece poucas vezes.
A vida é cheia de surpresas e o mês de setembro bateu o recorde.
Por fragilidade, carência, decepção, eu quis me iludir.
Por pouco não perdi o chão, a razão, a noção.

Viver...
Viver não custa.
O que custa é saber viver.

Queria entender como alguns momentos vividos 
Podem ficar na memória para sempre.
Por que algumas pessoas nos marcam eternamente?
Mérito da pessoa e MEU que permiti.
Tenho lembranças,
Vivi!
Eu fui feliz e não me arrependo.
O tempo não permite voltar atrás
Só arrependo do que não fui capaz.
A vida segue 
E eu deixo ela me levar.
Finco meus pés na realidade que possuo.
Cumpro com os compromissos que assumi.
Arco com as escolhas que fiz.
E não fico questionando se sou feliz.
Casa, trabalho, marido, filhos...
O dia a dia não permite esses desvarios!

Só que vez ou outra eu sonho...
E neles as pessoas são felizes
E se amam sem mágoas,
Sem remorsos e sem culpas.
Dizem que sonho que se sonha junto vira realidade
Mas, descobri que esse era um sonho só meu
E impossível de se realizar.
Se abri a porta por dentro, hei de aprender a fechar.
E ponto final.


terça-feira, 15 de novembro de 2016

Farmácia

Preciso de um remédio pra esquecimento
Quero esquecer o passado,
Mas apenas os maus momentos.
Quero gotas que aliviem dores
De saudade e de amores.
Um ótimo tônico, que me dê
Força e coragem
Pra encarar a realidade.
Uma pomada com cheiro de cânfora
Que retorne à minha alma
A fé e a esperança.
Pastilhas que me remetam à infância.
Cremes que devolvam o calor
Do primeiro beijo ou do primeiro amor.
Quero um vidro de pílulas 
Que me tragam a sensação única 
De borboletas na barriga.
Um bom colírio que me permita 
Ver apenas o que é belo e colorido,
E gotas otológicas
Que me façam ouvir
Apenas o que quero ou preciso.
Quero também comprimidos
Que me impeçam de dizer
Tudo aquilo que penso ou devo.
( embora alguns esparadrapos
Também me sirvam nesse caso)
Quero um elixir
Que me ajude a resistir,
Nem faço questão que seja 
O tal "da juventude",
Desde que devolva saúde:
Física, mental ou emocional.
Onde encontro uma farmácia assim,
Com sais que me ajudem
A me perder de vez
Ou me encontrar enfim?















domingo, 6 de novembro de 2016

Sentimento

" Os verdadeiros laços de afeição não se rompem nem pela separação, nem mesmo pela morte."
 Allan Kardec


Busco resposta pro que sinto
Na Bíblia 
Na Igreja
No Espiritismo
Na Reencarnação 
Na Medicina
Na Psicologia
Na Microfisioterapia
No I Ching
E a resposta é simples:
Eu sinto.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Idade é um estado de espírito

Eu quero que você me veja como eu sou.
Despida de máscaras,
Sem subterfúgios.
Eu não tenho plásticas,
Não faço dietas,
Fujo da ginástica.
Não escondo idade,
Eu tenho orgulho dela
Pois não vivi em vão.
Cada fio branco,
Cada ruga,
Cada estria,
Cada cicatriz,
Eu conquistei vivendo.
Vivendo intensamente!

Eu quero que vc saiba
Que os anos vividos
Me permitiram me aceitar como sou.
Em paz com o meu corpo
Que não é perfeito.
Não temo a nudez.
Luzes acesas,
Portas abertas,
Olhos nos olhos,
Não me intimidam.
Eu sei quem sou.
Madura.
Sem constrangimentos,
Sem pudores,
Sem temores.

Eu quero que você me aceite
Despida de qualquer glamour
Envolta apenas em poesia
E repleta de amor.
Eu sou assim
Cabelos soltos
Sorriso no rosto
E esse batom
Que faz parte de mim.

Eu te ofereço VIDA
Te estendo a mão 
Te conduzo à dança 
Te indico o caminho
Contigo divido os meus dias
Te dou minha alegria 
Prometo histórias bem vividas.
Quero que você me queira ainda mais...

O tempo me trouxe essa segurança 
De não ter medo de errar.





quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Depressão ou Esgotamento

Ando cheia de vazios
Excesso de carências 
O corpo sempre foi forte
A cabeça não 
O coração muito menos
Preciso me ocupar
Despreocupar
Cuidar de mim
Eu não queria ser assim
A dor do outro
As dores do mundo
Sangram em mim






domingo, 9 de outubro de 2016

Ainda sobre o mar



Dentro de mim, habitam ele e o mar.
Me sinto sereia, não vivo sem água.
Coleciono conchas e recordações.
Adoro mergulhar aonde os pés não tocam o chão.
Tento colar os fragmentos da história que não teve fim.
Sempre ele e sempre o mar.
Tanto amor não foi em vão!
Sem ele e longe do mar
As lágrimas são o sal que me restou...



quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Haicai secreto






Ninguém nunca saberá dos sentimentos
Escondidos a sete chaves
Nem dos sonhos e desejos
Camuflados em meus olhares

sábado, 1 de outubro de 2016

Sem você

Sem você 
Acaba-se o livro.
Apaga-se a luz.
Falta-me o ar.

Sem você 
Me sinto anulada,
Dilacerada
Como continuar?

Sem você 
Nada de cores,
Rubores,
Humores.

Desde então,
Austeridade,
Seriedade,
Sobriedade
E tudo que me apague,
Anule minha passagem,
Torne invisível minha imagem.

Até o amor acabar.
Se acabar...

(Ouvindo DE JANEIRO A JANEIRO com Roberta Campos e Nando Reis)






quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Há uma alma impetuosa
Sufocada pelo cotidiano
Se olhar bem nos meus olhos
Verá que ela pede socorro 






terça-feira, 27 de setembro de 2016

Só podia ser primavera


Ouço as canções 
Primavera com Tim Maia
(Tenho muito pra contar...)
Lua e estrela com Caetano
(Mas deixa o destino, deixe ao acaso...)
Só primavera com Beto Guedes
(Só porque existem mais coisas no ar...)
Sinal fechado com Paulinho da Viola
(Não esqueça... Não esqueço...)
No meu desassossego as letras se confundem
E dizem coisas que eu não consigo,
Não posso, não devo dizer
Mas quero!
Deixo as canções dizerem o que calei
E muito mais...
O tempo passou, e ainda ouço Marisa Monte
"Memórias, crônicas e declarações de amor"
O cd mais bonito pra mim.
Tanta coisa aconteceu, e Tolkien
Repousa cúmplice na minha estante.
Sete de setembro sempre será
O dia da independência.
Para mim, será  para sempre
Da independência que eu não fui capaz.
As alegrias e dores dessa data
Estão marcadas em meu corpo e alma.
Sequelas que carrego
Das lembranças e da doença.
Setembro está gravado em mim
Como tatuagem, marcada a ferro
Em brasa, estou.
Se meus cabelos hoje estão ruivos
Não é à toa...
Que bom que aconteceu
E não foi sonho!
E é até deslealdade com a vida real
Não ter sido mais
Não ter ido além 
Não ter tido brigas
Não ter ficado mágoas
Não ter vindo à tona
Defeitos e manias
Cotidiano e monotonia
Despesas, carnês, contas pra pagar.
Ficaram boas lembranças
E o desejo do que podia ser 
E nunca será.
Não tenho cartas, fotos, cds
Nem telefones ou livros.
Mas eu não preciso.
O que vivi, 
Ninguém pode me roubar.








sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Eu

Você não tem ideia
De como meço meus gestos.
Você não imagina 
O quanto eu penso antes de falar.
Você nem desconfia
Do cuidado que eu tenho
Com meus atos e palavras.
É quase um ritual,
Para atingir esse verniz 
De normalidade que me cobre.
Meu corpo até que é sereno,
Mas a minha alma...






domingo, 17 de janeiro de 2016

Domingo

Eu já gostei de domingos.
Os domingos da minha infância e adolescência eram os dias em que eu tinha meu pai em casa.
E era uma farra!
Íamos todos para a cama dos meus país. Era um acordar diferente.
Café da manhã com todos na mesa, ovos mexidos, mingau de aveia, café, pão com manteiga...
Dava-se um jeitinho na casa, "jeitinho", afinal era domingo!
Cuidava-se das plantas, banho nos cachorros.
E começavam os preparativos para o almoço.
A comida era especial, mesmo que fosse a mais simples.
Iamos todos pra cozinha, ajudar, conversar, partilhar.
Por menor que fosse o espaço, estavam todos por perto.
Ouvia-se boa música. Cada um colocava o seu vinil preferido e tinha sempre Paul Morriat, Boca Livre, Bethania, Milton e muito Beto Guedes.
As conversas eram amenas, tinha risos, domingo era o dia neutro.
Evitava-se falar de problemas. Dificuldades do dia a dia.
Depois do almoço tinha um descanso e não se lavava a louça, ela ficava arrumadinha aguardando na pia. Às vezes até segunda-feira. Ninguém morria por isso.
Muitas vezes tinha jogo de buraco e tinha sempre namorados e amigos.
Casa cheia apesar das vacas magras.
Mas sempre tinha doce, sobremesas, bolo.
Casa de doceira...
E os domingos terminavam coroados pelo Fantástico.
Domingos eram dias felizes.

Eu çresci, casei, tive filhos.
E deixei de gostar dos domingos.
Domingo hoje é um dia que me dá vontade de chorar e quase sempre choro.
Não é de saudosismo.
É de impotência ou de incompetência.
Não fui capaz de tornar felizes os domingos.
Não soube colocar magia nesses dias.
Não são especiais.
Perderam a poesia...
Me conformo lembrando as palavras de Paulo Gracindo:

"Domingo não é um dia.
Domingo é um sentimento."

Ele sabia o que dizia.