Os domingos da minha infância e adolescência eram os dias em que eu tinha meu pai em casa.
E era uma farra!
Íamos todos para a cama dos meus país. Era um acordar diferente.
Café da manhã com todos na mesa, ovos mexidos, mingau de aveia, café, pão com manteiga...
Dava-se um jeitinho na casa, "jeitinho", afinal era domingo!
Cuidava-se das plantas, banho nos cachorros.
E começavam os preparativos para o almoço.
A comida era especial, mesmo que fosse a mais simples.
Iamos todos pra cozinha, ajudar, conversar, partilhar.
Por menor que fosse o espaço, estavam todos por perto.
Ouvia-se boa música. Cada um colocava o seu vinil preferido e tinha sempre Paul Morriat, Boca Livre, Bethania, Milton e muito Beto Guedes.
As conversas eram amenas, tinha risos, domingo era o dia neutro.
Evitava-se falar de problemas. Dificuldades do dia a dia.
Depois do almoço tinha um descanso e não se lavava a louça, ela ficava arrumadinha aguardando na pia. Às vezes até segunda-feira. Ninguém morria por isso.
Muitas vezes tinha jogo de buraco e tinha sempre namorados e amigos.
Casa cheia apesar das vacas magras.
Mas sempre tinha doce, sobremesas, bolo.
Casa de doceira...
E os domingos terminavam coroados pelo Fantástico.
Domingos eram dias felizes.
Eu çresci, casei, tive filhos.
E deixei de gostar dos domingos.
Domingo hoje é um dia que me dá vontade de chorar e quase sempre choro.
Não é de saudosismo.
É de impotência ou de incompetência.
Não fui capaz de tornar felizes os domingos.
Não soube colocar magia nesses dias.
Não são especiais.
Perderam a poesia...
Me conformo lembrando as palavras de Paulo Gracindo:
"Domingo não é um dia.
Domingo é um sentimento."
Ele sabia o que dizia.
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