domingo, 11 de janeiro de 2009

Eles


Ele dizia:

Bom dia flor do dia há quanto tempo eu não te via!
Toma, é bom...
Coça cá as minhas costas.
Alma até Almeida!
O que arde cura, o que aperta segura.
Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte.
Serviço de menino é pouco e quem não aproveita é louco.
Dou-te um piparote que te ponho a voar!
Todo enchicharrado...
Viver não custa, o que custa é saber viver!
Lusca-fusca.
Charmenia Gardenia!

Ela dizia:

Quem é amiga?
Quem não se enfeita por si se enjeita.
Quem não se sente não é de boa gente.
Que boca branca é essa? vai passar um batom nessa boca!
Quem não come por já ter comido, não tem doença de perigo.
Peitiçoca, maracujá de gaveta, carrapato com tosse, encangando grilo, saída da casca, perna de alicate...
Fátima... Olga... Lúcia... Charmene! (desfiava o rosário inteiro para me chamar...)

Eles já se foram,mas ainda ouço as vozes da minha infância.
Me vejo de novo menina, sendo feliz perto deles, completamente alheia ao meu destino e à mulher que eu viria a ser.
Me lembro doente, cercada de travesseiros e mimos.
A casa exalando à canja, chá de erva doce e ao bendito xarope de cenoura.
O tempo passou tão depressa que não deu tempo de viver tudo o que eu queria.
Faltou ter entrado na igreja com ele quando me casei.
Faltou Davi ser ninado por ela na cadeira de balanço.
Me sinto roubada até por ser a caçula e ter tido menos tempo como filha...
Sinto falta de ser amada incondicionalmente.
Eles se foram, mas a cada dia, os sinto mais vivos em mim.
Porque a vida continua,
A história se repete...

Samuel cara de papel...
Gabriel cara de pastel...
Davi cara de caqui...

‘Tá na hora de dormir!!!

Março de 2006

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